''Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém há os que lutam toda a vida.
Esses são os imprescindíveis.''


Bertolt Brecht

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Deusa clio

  

   Depois de muitas discussões ''filosóficas'', e profunda reflexão sobre qual título poderia melhor  caracterizar este intento, conseguimos finalmente entrar em consenso. (ufa!)   E inaugurando o Deusa clio nada mais conveniente do que homenagearmos CLIO: a musa da História e da Criatividade.
   As musas, filhas de Zeus, eram nove deusas das artes e das ciencias na mitologia grega. Sua mãe era Mnmósine a deusa da memória. A palavra musa  vem do grego "mousa" e dela deriva museu que, originalmente significa "templo das musas". Segundo os mitos antigos todas estas filhas de Zeus, ficavam no monte Parnaso cantando e tinham todo o poder de afastar a dor e a tristeza, sendo invocadas todas as vezes que escritores, artistas e etc. precisavam delas para serem bem inspirados. É mérito de Clio a introdução do alfabeto Fenício na Grécia e o grande fruto que  a lembrança traz : A História. O próprio Heródoto, Pai da História, dedicou a clio 9 livros.
  Clio também divulga e celebra as realizações. Representada como uma jovem coroada de Louros, traz na mão direita uma trombeta e na esquerda um livro, cujo título é Tucídedes (historiador da Grécia Antiga).Também é considerada a inventora da guitarra.
  A representação e importancia da Deusa Clio não é mera referência ilustrativa, mas sim um chamado a abordagens de História Social e cultural. O livro que Clio carrega, nos remete a escrita da História, a historiografia, ao relato das realizações : a necessidade do registro, para a análise, para o conhecimento do que foi ou resultará o acontecimento histórico. E a trombeta de clio faz referência a anunciação, a fama do acontecimento, da História.

 
 A deusa clio por Vermeer



 A responsabilidade do historiador
 
   
   Entre tantos devaneios bobos do ser ou não ser um historiador, nos encontramos duvidosos, receosos quanto a nossos destinos e história academica. Conhecendo com afinco, sem reservas procurando nas entrelinhas tudo que os autores mais célebres não disseram em seus textos, apesar do que eles disseram...Virando e revirando reflexões, a crítica dentro de si mesma...encontrando não só o que procurávamos, mas vislumbrando o que nem imaginávamos encontrar... É desta forma que caminhamos rumo ao descobrimento do conhecimento. 
  Todavia, é claro, não deixamos de nos emaranhar num labirinto de dúvidas e elocubrações epistemológicas. O que não nos minimiza ou desconcerta ante o desafio... ao contrário, nos fortalece.  Como bem nos lembram nossos mestres, o que importa não são as respostas , mas sim as perguntas, pois estas é que mostram a direção... Se não fossem as perguntas, como dizer aonde se quer ir?
   Afinal, não é a pergunta no presente que nos remete ao passado? O que vamos buscar atras que não está  a nossa frente? O desenrolar, a raíz, a origem, o problema, a historia . Nesse ínterin o que é o historiador? Um instrumento? Um eco muito bem treinado para prontamente lhe dizer o que foi, como foi, e  quando? Não seria torná-lo apenas prático e informado? O historiador não pode reduzido desta forma , responder... Ele não pode atender a perguntas, se não saberia buscar, e como buscar.
  O historiador é mais que simples reprodutor, simples instrumento de consulta ao passado. Ele é aquele que consegue além das esferas práticas e metódicas  ter uma visão ampla e diferenciada de um mesmo ponto. É aquele que alcança no ar a etérea linha da verdade, ou das verdades, que levemente escapa por entre seus dedos,  convertendo  múltiplas direções apresentadas em um mesmo caminho de busca. É não aquele útil, mais necessário componente de uma eterna construção. Se não servimos para abrir os olhos,  mostrar o que  por muito tempo foi escondido e levar a mentes ignorantes a reflexão maior sobre  o homem, não estaremos servindo para o contínuo desenvolvimento do homem e da sociedade. E muito menos para o olhar crítico dos indivíduos...
  Historiadores do ''mundo inteiro'', uni-vos. Algumas transformações externas e internas, dependem em muito pontos de nós. A tarefa não é das mais fáceis, pois seria como se tivéssemos de retirar um véu, (em alguns casos uma burca) de pessoas que querem muitas vezes continuar usando-o. Será talvez, em muitos casos, como se estivéssemos tolhendo o direito ''legítimo'' daqueles que querem permanecer cegos...será como avisar a um monte de homens numa caverna, que o mundo não é tão somente aquilos que eles pensavam segundo as possibilidades que lhes eram oferecidas...

  

Historiador

Veio para ressuscitar o tempo
e escalpelar os mortos,
as condecorações, as liturgias, as espadas,
o espectro das fazendas submergidas,
o muro de pedra entre membros da família,
o ardido queixume das solteironas,
os negócios de trapaça, as ilusões jamais confirmadas
nem desfeitas.

Veio para contar
o que não faz jus a ser glorificado
e se deposita, grânulo,
no poço vazio da memória.
É importuno,
sabe-se importuno e insiste,
rancoroso, fiel.


Carlos Drummond de Andrade, em 'A Paixão Medida'


 
                                                                                                                                                    Aimée

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